Imaginário

Euna Britto de Oliveira

www.euna.com.br

A fácil ferida recobra-se ao amanhecer

E eu vejo gotas de sangue

Pendurando a saúde na filha do rei...

Quisera poder recontar a vida repensada

E repassada

De capuchos de algodão...

Há mais de um mês estou indecisa,

Há mais de um ano,

Há mais de uma vida...

Se fosse médica, seria para curar o quê?

O corpo que preciso curar não se vê.

O que foi feito do ovo azul

De anu-preto

Que ganhei na minha infância?...

Fiz mamadeira de feltro

Para não conter o leite inexistente.

É imaginário o amanhã

Tanto quanto o ontem.

Ninguém escapa da avalanche dos séculos

Entretanto, os homens lutam por uma vida melhor,

Mesmo sabendo que aqui é só por uns tempos,

Como nos acampamentos...

Uma pomba fogo-pagou repete,

Ao alcance dos meus ouvidos,

A sua frase ancestral:

— “Fogo-pagou! Fogo-pagou!...”

De vez em quando, assusta-me!

Sensibilidade a postos,

Ausculto meu próprio coração.

Tenho algumas coisas boas,

Inclusive a coragem de me expor à vida,

Sabendo que a vida também traz morte,

Morte do dragão que cospe fogo,

Morte de um bonito sentimento

Do qual zelei com fralda e talco...

Forma um quadro bonito

A moça nova em casa velha,

Perto da rodoviária.

Do viaduto, eu a avisto,

Vestida de alegre, arrumando-se!...

Quando você partiu,

Os girassóis do retrato

Ainda eram sementes...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 20/06/2007
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