Poemas do Beco - ( V ) Monturos e Girassóis
Naquele tempo
ninguém falava em ecologia
ou em meio ambiente,
mas todos tinham um jardim.
As pessoas plantavam cinamomos
na frente das casas
onde os pássaros faziam ninhos.
a única poluição era a fumaça
das chaminés dos fogões.
O Beco não dispunha de rede de esgoto,
os valos que passavam
diante das cerquinhas de madeira
eram vigiados constantemente
por enxadas franciscanas...
As latrinas, casinhas ou patentes
eram caprichosas na pintura,
asseadas no assento.
Os meninos não brincavam com bodoques
e em toda casa conviviam, pacificamente,
um cão e um gato
que faziam parte da família.
Devido à ausência de coleta de lixo
todo pátio tinha seu monturo
onde se queimava a sucata doméstica.
Os restos de comida,
cascas de frutas, ovos e legumes,
pó de café e erva-mate
eram transformados em adubo
para os canteiros das hortas.
Assim cada casa possuía sua usina de reciclagem.
Ossos, vidros, ferro-velho e metais
eram depositados em um canto do quintal
para que os meninos apurassem umas moedas.
Desta forma os girassóis
navegavam pelos dias do Beco
com abelhas e borboletas.