NAS ESTRIAS DO MEDO

Pobre diabo.

Servil, trêmulo, insosso.

Sabia das coisas que devia saber

e ficava nisso. Era raso nas ideias,

oco nos sonhos, lerdo nas atracadas

Sua sina era viver longe das paixões,

dos risos, das estrias do medo.

Entendia a cor dos ventos,

mas ignorava o gosto do chão.

Sabia quantas vértebras tem a dor,

mas fazia pouco caso das beiradas

do gozo.

Sua alma se fazia plana, descamada

quando deveria ser rebarbada.

O sangue que lhe cabia se dizia

carente de cheiro, de impulso,

carente de fé.

Mas tinha dentro de algum canto

um galope ainda não deflagrado,

aquele estalar que Deus guarda

só para Si.

Foi quando decidiu partir.

Reuniu suas coisas e foi

na direção do seu suor,

fosse ela qual fosse.

Morreu no meio da busca

achando que flagrara seu oásis derradeiro.

Nunca soube de fato de onde vinha

aquela voz dizendo pra não fugir

Nem de onde brotavam as amarras

que o impediam de voar.

Morreu sem ter vivido.

Nem que tivesse sido

por um instante sequer.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 06/08/2015
Código do texto: T5336437
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