NAS ESTRIAS DO MEDO
Pobre diabo.
Servil, trêmulo, insosso.
Sabia das coisas que devia saber
e ficava nisso. Era raso nas ideias,
oco nos sonhos, lerdo nas atracadas
Sua sina era viver longe das paixões,
dos risos, das estrias do medo.
Entendia a cor dos ventos,
mas ignorava o gosto do chão.
Sabia quantas vértebras tem a dor,
mas fazia pouco caso das beiradas
do gozo.
Sua alma se fazia plana, descamada
quando deveria ser rebarbada.
O sangue que lhe cabia se dizia
carente de cheiro, de impulso,
carente de fé.
Mas tinha dentro de algum canto
um galope ainda não deflagrado,
aquele estalar que Deus guarda
só para Si.
Foi quando decidiu partir.
Reuniu suas coisas e foi
na direção do seu suor,
fosse ela qual fosse.
Morreu no meio da busca
achando que flagrara seu oásis derradeiro.
Nunca soube de fato de onde vinha
aquela voz dizendo pra não fugir
Nem de onde brotavam as amarras
que o impediam de voar.
Morreu sem ter vivido.
Nem que tivesse sido
por um instante sequer.
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