A CIDADE TRANSFIGURADA

 
 
Aqui onde moro
mas de onde talvez
não seja:

O miolo que fica no meio da avenida,
espaço arbóreo e gramado,
é simplesmente ilha.

No encontro das avenidas
existem as rótulas,
que são queijos.

Para organizar
a desrazão do trânsito:
tartarugas, zebras
e pardais.

Parques são
Flamboyant
Areião, Cascavel
Vacabrava ,Buritis
das Rosas e Botafogo
além de um Jardim
o Botânico.
Além de outros
ainda não descobertos
pela poesia.

Feiras são do Sol,
da Lua,
do Doce e do Mel
dos Girassóis,
do Entardecer,
do Cerrado,
da Marreta
e a internacional Feira Hippie.
E outro montão
que talvez nem tenha nomes.

O bairro que vende
produtos automotivos roubados
é Roubauto.
Bem ali na terra prometida da Vila Canaã, 
vizinha da Cidade Jardim,
onde fica o Hipódromo da Lagoinha.

Estádio
é simplemente Serra
que com o adjetivo é Dourada,
o do time do Goiás é Serrinha,
o do arquirival Vila Nova,
deixou de ser Onésio Brasileiro Alvarenga
para virar OBA!
E o tem ginásio Rio Vermelho,
belo nome de uma coisa
não tão bela.

E tem um monte de avenidas
que finge de rios:
Paranaíba, Araguaia e Tocantins

Têm muitos anhangueras
que derivam de um nome maldito
de bandeirante
com mania de com fogo
queimar rio
para assustar, enganar e matar índio.
Hoje virou avenida, praça, bairros, faculdade
canal de televisão e até estátua.

O monumento às três raças,
são três peões (para alguns, incorretamente, "negões)
segurando uma pedra
bem em frente
ao Palácio das Esmeraldas.

No Setor Aeroporto teve
mas não tem mais
aeroporto.
Hoje só um avião
e uma estátua de Santos-Dumont
lá no meio da Praça do Avião
No cruzamento da
Avenida República do Líbano
com outra que até pouco tempo
foi xis.

(...)

Assim com palavras,
sem intenção de poesia,
essa cidade,
que é coisa feia
cheia de monotonia,
se transfigura...
se transfigura em poesia.
Que deixa de ser cidade, 
para ganhar substância
de palavra pura.