POEMA PARA SER CANTADO POR MULTIDÕES
Não me traga angústias vazias,
daquelas de quem não tem o que fazer.
Traga-me angústias profundas,
daquelas que levam o sujeito a vomitar
e clamar a onipotente presença
da divindade.
Quero fazer um poema
para ser cantado por multidões.
Quero um poema que seja
como um olhar:
que diga tudo
sem mostrar quase nada.
As palavras me queimam a boca,
amargam meu estômago,
fuzilam meus ouvidos
de sons roufenhos, infernais.
William Blake ri de mim
e Marcel Proust
está cada dia mais doente.
Quero um poema narrativo.
Uma frase quase sem fim de tão imensa.
Para as multidões cantarem sem fim
como se as ruas fossem
um estádio de futebol.