POEMA PARA SER CANTADO POR MULTIDÕES

Não me traga angústias vazias,

daquelas de quem não tem o que fazer.

Traga-me angústias profundas,

daquelas que levam o sujeito a vomitar

e clamar a onipotente presença

da divindade.

Quero fazer um poema

para ser cantado por multidões.

Quero um poema que seja

como um olhar:

que diga tudo

sem mostrar quase nada.

As palavras me queimam a boca,

amargam meu estômago,

fuzilam meus ouvidos

de sons roufenhos, infernais.

William Blake ri de mim

e Marcel Proust

está cada dia mais doente.

Quero um poema narrativo.

Uma frase quase sem fim de tão imensa.

Para as multidões cantarem sem fim

como se as ruas fossem

um estádio de futebol.

Deodato
Enviado por Deodato em 19/06/2007
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