Prece
Ó Deus
divindade sagrada
dos vivos e dos mortos
deuses do Olimpo
demiurgos todos
Ó Fiturgo
Dai-me um teto
um canto de chão e paredes
onde eu possa guardar
os meus livros
protegendo-os da violência
da chuva
e da ardência do sol
que lhes possam arruinar os corpos.
Um cemitério para os mortos
que neles habitam
e para vivos
que também morrerão:
um e mesmo destino
que a todos iguala.
Porque estes mortos,
ó deuses,
ressuscitam para a vida
a cada toque de minhas mãos,
a cada fitância dos meus olhos
a cada confirmação dos meus sentidos.
Mas lembra Senhor,
de dar abrigo às emoções que nascem...
uma manjedoura para o meu espanto
uma rede para mais querência
e um ninho de braço para um peito
em fruição.
Que sou singela, ó Pai,
e não combino com desperdício
nem exageros
afora esse absurdo desejo
da impossível justiça,
esta justa medida de cada instante
que me extrapola
me assalta
e me antecede.