passagem

A parede

Vendo o reboco

Carcomido ao tempo

Tomo consciência de que

Vou vencendo

Meu próprio tempo...

Vai-se desenhando

Chuva após chuva

Mapas desiludidos

Nos tijolos postos nus

Mostrando ao tempo que

Se vai vivendo neste reboco

O roído tempo oco.

Vez ou outra

Vez ou outra

Nos vemos ainda,

Eu e o menino que fui,

Pedalando sobre bicicletas

Que passam com seus novos

Meninos perpetuando

A sempre mesma festa...

Aquela em que fui crescido

Numa quadra ida às pressas.

Não sem o sentimento da perda

Do imerecido nessa...

Passagem

Descarrego sentimentos

Como um trem de carga...

Vagões de alegria

Vagões de tristeza,

Vagões de saudade das asperezas.

Bebemos o sol da manhã

Em fins de tardes

Como o trem chegando madrugada

Acordando os vizinhos

Com o susto de sua chegada...

Alguém ainda brinca com crianças

Como fossem bonecos...

O trem parte

Deixa uma tarde sem esperança

De madrugar de novo

Descarrego sentimentos

Com a despedida,

Que o trem já foi

O trem já foi

Já foi...

Amanhã, quem sabe...

Amanhã, quem sabe,

O céu seja suficiente

Para chegar ao cume

Da sapiência

E zerar as fomes

E as indecências...

Amanhã,

Quem sabe a vida

Se torne vida realmente,

Entre paradas cardíacas

E isquemias latentes...

Amanhã que sabe

Saibamos por de molho

Nossas ofensas

E pedir desculpas,

Se não ao outro,

A nós mesmos.

Sergiodonadio.blogspot.com

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 02/08/2015
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