A negação do poema
Quisera que o poema viesse
e ele não veio.
Mas eu o percebo em mim,
escondido e mudo,
à espera de que algo
o coloque a nu.
Não o culpo
pela sua postura contemplativa,
pela sua quase fuga;
não o forço a nada,
a porta está aberta
e ele sabe disso.
Também não carrego culpa
por não ter sabido arrancá-lo de minhas entranhas,
por não libertá-lo.
Portas eu abro sempre,
entra e sai quem quer e quando quiser,
inclusive o poema
que permanece recluso.
No entanto, eu o sinto cá no peito,
em movimentos rítmicos
de lá pra cá e de cá pra lá.
O poema
pulsa
dentro de mim.
(27.03.2003)