PÉTALA BANDIDA
Lutou até a morte por sua vez.
Mesmo vendo o tempo se esgarçando,
fazendo escorrer feito medo sem barragem.
Lutou até a morte para trocar o sentido dos ventos
e trazer novo o gosto para seu amor.
Se fez retalho, apelo, se fez perdão.
Nas retrancas da dúvida refez cada vértebra
roída da sua fé. Uma atrás da outra.
Se permitiu esquecer o nome, a cor da sua pele,
o endereço que se refugiava no seu baú.
Foi mártir sem causa, mestre sem pauta,
rebento sem matriz.
Dessa forma pôde ancorar cada palavra
na mesma toada, fosse qual fosse.
Dessa forma se viu parido, adocicado e
agigantamente feliz.
Como um pároco embebido em dúvidas,
enfrentou cada poro rebelde da sua alma.
Dissecou todo lado inerte, reuniu cada pétala bandida,
alinhavou todos gritos que teimavam em não dormir.
Virou então raiz da própria voz.
Então entendeu tudo. Cada sonho encardido
se fez voar até os rincões mais desembestados
da sua espera sem trégua.
Não precisava mais de salva-vidas,
nem de muleta, nem de qualquer desculpa.
Agora era sua vez de brilhar.
Então fez todos os olhos do mundo dizerem amém.
Todos juntos, todos na mesma mão,
todos num mesmo folguedo maravilhoso,
colorido e absurdamente seu.
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