AGOSTO

 

O vento anuncia
julho acaba
agosto inicia

Flores de mangueiras
espalham-se no ar
cachorro louco na rua
que tem na boca a baba
cigarras emergem da terra
nos galhos estridulam
crianças voltam das férias
retornam para a escola
antes ou depois das aulas
soltam pipas
motoqueiros morrem de medo
no campinho de terrão
redemoinhos levantam poeira
e dentro deles pererês e diabinhos
visíveis debaixo da peneira

casais de pássaros nidificam
mas pessoas não se casam
para não se separarem
por esse motivo
nem por outra razão
deprimidos expressam
suas dores e lamentos
oitizeiros deixam cair
multidão de folhas
pelas ruas esvoaçoam
as mesmas folhas
junto a sacolas pláticas
aragem seca
denununciam que é seca
que seca e trinca
pele e boca
 minha mãe chora
ao lembrar da irmã
que ainda bebê morreu
em agosto de 1952

Tudo todos e todas
parecem compreender
as mensagens do vento
de que nesse mês
 devem seguir
o estranho gosto
desse mês de agosto
em gerar lamento
pois sabem
que ele cria nuvens
para que no próximo mês
haja possibilidades de chuva

Depois desse triste mês
que no sertão parece
ser maior que os outros

 

 
 
Peço desculpas à amiga Cristina Gaspar por assim falar de seu mês de nascimento. Mas acontece que não nasci nem moro do Rio de Janeiro, onde tudo é sorridente o ano inteiro. Ou não... não sei!