VÉRTEBRAS TEIMOSAS
Entre dois caras há uma ponte um tanto curiosa.
De um lado, um mundo todo a domar, a seduzir, a colorir.
Do outro, um mundo um tanto calejado pelo assombro do descobrir, do teimar, do dissecar.
No meio destes dois caras sobram rebarbas que são, de fato, vértebras teimosas de um caminhar por vezes no escuro, por vezes em redemoinho, por vezes sem sair do mesmo lugar.
Este caminhar fez questão, também, de não economizar nos fogos de artifício,
nos gozos, no prazer de ter chegado lá.
Os caras poderiam ser letras da mesma palavra, mas não são.
Entre eles existem diferenças em tal avalanche que, no fundo, um não tem mais nada a ver com o outro.
O chão fez tantas marcas na alma deles, o vento que ardia na cara marcou fundo cada teco de pele que pôde encontrar.
É possível, vai saber, que os dois caras se encontrem algum dia.
Por certo vão se estranhar, tentar buscar algum cheiro conhecido no outro, por certo vão se tatear mutuamente na tentativa de sentir qualquer teco familiar.
Mas será em vão.
Não há mais nenhum vestígio comum aos dois.
O tempo os fez tão diferentes, tão distantes e tão longe um do outro que nada sobreviverá dentro de um que se identifique com o que existe dentro do outro.
São dois eternos estranhos, criaturas que nunca se encaixarão, se moldarão, se entrosarão de algum modo.
O destino os fez irreconhecíveis. Para todo o sempre.
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