BAGAÇOS DA MESMA SENZALA
Somos como gatos, temos sete vidas, sabia?
Cada uma delas com alma própria, pouco sabendo das outras.
Quando uma vai à ribalta, as outras se calam, hibernando dentro
de si próprias.
Neste casulo permanecerão até chegar sua vez de brilhar.
Nossas tantas vidas são vértebras siamesas brotando da mesma matiz.
Por vezes, as flagramos tentando emergir fora de hora, como rebento
temporão que entra em cena intrometido como ele só.
Então a coisa vai ficar esquisita.
Como as vidas não se reconhecem como tal, quando se resvalam, fingem que são de outra casta, de outra dimensão.
Esta reação esnobe é a marca incontesti de que são bagaços da mesma senzala, retalhos da mesma nódoa, suor do mesmo folhetim.
Quando nos enfronhamos nestas franjas gatunas, ronronando nas encostas das emoções feito fado manco, com suas cores, cheiros e gostos, as almas se desossam e mostram seus dentes.
Os mesmos dentes que cravamos nas cepas esgarçadas dos nossos finitos e tão saborosos corações.
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