PAIXÕES DESPARAFUSADAS

Posso falar da paixão sem medo de pirraça,

ou do carrasco.

Descobri ainda garoto que não passava de trote maroto,

tipo sopro que vinha só de lambuja,

tipo reco-reco que ficamos rodando sem cansar,

e sem entender o porquê.

As minhas paixões nasceram num parto endiabrado,

me olhavam com desconfiança,

faziam troça da minha inquietação,

descabelavam meus guizos com cheiro de fera insana.

Vieram por vezes únicas, por vezes em bando,

e se atracavam nos meus poros feito chaga maldita.

Lembro de algumas paixões ranzinzas, desparafusadas,

e de outras que passaram do tempo,

também de outras que teimavam em se enraizar em mim feito

saudade do pedaço de pão.

Outras paixões foram aflitas, um tanto velhas e mal arrumadas,

foram se aconchegando no meu colo feito garoa de final de noite.

e como arderam, não imagine o quanto arderam.

Hoje deixo todas estas paixões empoeirando minha sala de troféus.

Cada um delas se achando, como rainhas vitalícias,

todas olhando para mim feito cria esperando a primeira refeição,

feito Deus querendo esquecer seus afazeres numa mesa de bar.

Então vou salpicar cada uma delas com meus beijos menos lacaios,

arrumar minhas coisas e colocar todos os sonhos pra dormir.

Dormir como sempre quiseram crer,

como sempre teimaram em ser para mim

certo dia desses.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 28/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
Código do texto: T5326168
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