ALCAÇUS COM HORTELÃ
Quero ser vítima de um pecado.
Não um pecado raso, tosco, ranzinza,
mas um pecado vasto, folgado, arrebatador.
Que me faça esquecer todos números,
o tempo de cozimento do feijão,
o gosto da mulher amada.
Quero ser ultrajado por um pecado sem limo.
que encante meus quatro cantos,
que derrube todas peças do meu dominó
sem titubear.
Um pecado desnudo, sem calos, sem regras,
que me leve à loucura na primeira dose,
que tenha gosto de alcaçus com hortelã,
e que, sobretudo, me faça gargalhar como puta de
quinta categoria.
Um pecado com suor florido, mamas vastas
e voz que chame o sono de meu bem.
Que cante todos o hinos com peito em riste,
que embale cada fiapo da minha fé com ternura,
que seja atroz, mas que nunca engane o meu fôlego,
nunca mesmo.
Um pecado noviço, com alamedas perfumadas
e que tenha Deus como anjo predileto.
Neste meu pecado não cravarei quaisquer desculpas
ou gozo tardio.
Apenas serei eu e ele numa sombra triunfal.
Pra sempre
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