O Rio
No barco, a passeio,
o rio não apenas leva
como lava o meu corpo,
sem qualquer mergulho.
O movimento das águas
recorta o tempo
separando o presente
de passado e futuro.
Escapam de mim a história,
a fotografia do ontem
e o exercício da memória.
O rio é justo,
acontece no instante,
na justiça que não espera
e se antecipa à regra.
O rio é espelho:
recria o céu que se vê
na justa medida de si,
imensidão durável.
O rio é travessia
entre as margens que distam
e se admiram sem fundir.
A fusão é a morte.
O rio é vivo,
embora não haja peixes.