Último canto
Amem a aparência rija e construída
Amem os boêmios modernos, os gatos pardos da noite
Faça-se poesia com a epiderme
E com a superficialidade doce.
Louvem o que é passageiro
Apeguem-se à eternidade de um momento
Atirem-se livres ao primeiro nevoeiro
E à calmaria indelével de um tormento.
Eu estarei no silêncio, e em estado de greve
Em busca do intangível
Coberta de impossível
Gritando o que ninguém se atreve.
Só quero a palavra penetrante
A definição que falta
O amor em nota alta
O lirismo cortante.
Só canto o arrebatamento
O que toca por inteiro, certeiro
A voz sufocada, velada
A alma enluarada,
Sem chão e sem esteio.