onde havia flores

Onde havia flores

Do livro Abrigos

Gostaria de ter a paz

De me buscar nas leviandades,

De me pegar pelas mãos

E dar em alamedas geométricas

À procura do canto de sabiás...

Pelo som das alamedas.

Mas estou aqui, nesse lugar

Sem jardins, onde andorinhas

Cantam nas antenas de TVs,

Desavergonhadas de conviver

Com o alarido dos homens

E seus motores, e seus gritos,

E seus britadores, construindo

Mais e mais paredes onde

Havia flores.

Sergiodonadio.blogspot.com

Talvez fosse de pedra

O primeiro homem,

E perdeu-se

Ao desalterar-se

Em sentimentos...

Quando o viver

Baba por finitos

É hora de assomar

Espíritos...

O arador

O peão com seu arado

Parece imponente no quadro,

Na verdade o modelo, suado,

Desvia-se de um ninho de cobras,

De um formigueiro brabo...

Mas isso não aparece na pintura

Que mostra o sol poente

E uma linda névoa serpenteando

O rio, o cão ao lado não estava ali,

São aparições póstumas

Que o artista concluiu que haveria,

Ao lado do roceiro seu cão...

Mas não, ele prefere um corote

De água fresca e a palha

Para o fumo da hora do descanso.

O arador é bruto, não tem essa singeleza que aparece nas faces,

Está queimado de manchas,

Roupa rota, olhar cansado...

Não a vermelhidão sensual

Do quadro.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 21/07/2015
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