Estratificação social

às vezes sinto que a morte chegou,

belisco minha alma como se estivesse de porre,

essa embriaguez não me deixa ver, que agora,

sinto medo, mais medo do que fome

as lágrimas, arredias não despencam,

cristalizam meus olhos que nada lêem,

cortam meus sentimentos ao meio

como se arrancasse a metade, mesmo assim, choro

no fundo do vale

soluço aos pedaços,

remendo feridas,

costuro parcos retalhos

outras vezes choro sozinho

um choro vencido, um choro calado,

um choro que brota de dento,

que vem do meu eu compadecido

Nessa hora, no centro da vala, olhando para o ermo,

percebo que não nada sou:

nem pai, nem mãe, nem marido.

nem mesmo o pó que da erva fui.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 18/06/2007
Código do texto: T531896
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