A ESTATUA

Me encontro sentado na beira da calçada

Ouvindo barulhos de todos os lados

São carros, carroças, trens, aviões

Passando ao meu redor

Não consigo vê-los, só ouvi-los

São ruídos de ratos, miados de gatos, latidos de cães

Batidas de sapatos, botas nas calçadas

Sinto pancada em todo o meu corpo

Na cabeça, nos ouvidos, olhos, braços e pernas

Tento abrir os olhos, não consigo, estão colados.

Tento gritar aos quatro ventos, não consigo

Meus lábios estão colados uns aos outros

Tento esticar os braços, não consigo.

Minhas pernas endureceram como um gesso

Sinto-me totalmente paralisada

Sinto-me uma estatua sem status

Ninguém para pra me olhar

Se fui bem esculpida ou não

Eles sentem medo de mim

Pensam que serão atingidos pelo mesmo mal

Mas esqueceram que foram eles mesmo que me esculpiram

Foram eles que fizeram de mim analfabeto

Pobre, ignorante, prostituta, viciado

Marginal, homossexual.

Esta sociedade não parou para refletir

Pois não quer se comprometer

Eles usam o que podem

Depois jogam fora, como se fosse lixo.

Deixam passando fome, frio.

Dormindo nas calçadas e viadutos

Deixam comer-se de poeira

Como estou agora, sufocado.

Estou morrendo

Não agüento mais

Fizeram-me de um material bem ruim

Para logo me acabar

Desaparecer desta estrada porca

Cheia de preconceitos e

Leis que ninguém cumpre

Meu corpo esta desmoronando

Vou cair bem em cima desses escultores porcos

Para depois virem com seus capachos

Retirar os cacos do caminho

Estou desabando, não agüento mais.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 20.07.15

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 20/07/2015
Código do texto: T5317785
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