QUASE NÃO ERAS MAIS

Tomei emprestado o tom azul

marinho na paleta dos olhos teus.

Num instante luzia noutro fugia

e a tinta, sem que eu pudesse,

das palavras escorria danúbio

nilo e quase não eras mais, mas

eras translúcidas águas paradas.

Em busca do teu mar

singro dobras de terra molhando os pés.

Deságua escancarada a boca da chuva ,

a luta do silêncio não dispensa o solilóquio da solidão.

Molhado da tinta pelo revés do caminho,

a novidade é ainda ter no chão os pés.

Teu retrato descora, tinge

minhas mãos enquanto descrevo-te azul.

Se escrevo “não dura a alegria

enquanto pinto” é para conter, da aurora

no brilho azul do retrato, novo dia.

Antonio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 16/07/2015
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