QUASE NÃO ERAS MAIS
Tomei emprestado o tom azul
marinho na paleta dos olhos teus.
Num instante luzia noutro fugia
e a tinta, sem que eu pudesse,
das palavras escorria danúbio
nilo e quase não eras mais, mas
eras translúcidas águas paradas.
Em busca do teu mar
singro dobras de terra molhando os pés.
Deságua escancarada a boca da chuva ,
a luta do silêncio não dispensa o solilóquio da solidão.
Molhado da tinta pelo revés do caminho,
a novidade é ainda ter no chão os pés.
Teu retrato descora, tinge
minhas mãos enquanto descrevo-te azul.
Se escrevo “não dura a alegria
enquanto pinto” é para conter, da aurora
no brilho azul do retrato, novo dia.
Antonio B.