ALMA BAMBA
Minhas perdas fizeram parte do show
doeram sem carta de alforria,
fizeram meu coração descarrilhar.
Muitas delas foram solenes,
entraram em cena com orquestra tocando,
não deixaram pedra sobre pedra.
Tive muitas perdas que perdi a conta,
botaram minha alma bamba,
meus sentidos órfãos,
embriagaram minha razão de ficar em pé.
Mal sabia que estas perdas traziam ganhos no seu ventre,
fartos ganhos, acredite.
Aprendi com elas o gosto amargo do vazio,
senti com elas o cheiro seco de fazer sumir o chão,
vivi com elas o hálito pontiagudo da morte em vida.
Passada a nevasca, sobrou um belo poço de luz.
Passada a cólica sem perdão, ficou a paz.
Passado o arrastão implacável,
ficou a varanda divina.
Se não fosse pelas minhas perdas, tantas perdas,
seria mais um andarilho atônito qualquer
sem teto, sem cais pra aconchegar,
sem qualquer teco de fé.
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