FULIGEM ADOCICADA

Meus ventos são prenhos, alguns frouxos,

alguns refastelam a toda hora,

feito orvalhos bastardos à procura de luz.

São ventos rabugentos, encardidos,

de fuligem adocicada,

e alma áspera feito o medo de morrer.

São ventos ainda trêmulos, ainda preâmbulos,

mas já escancarados nas suas alamedas.

Gosto de todos, cada um à minha maneira,

dos noviços, dos esgarçados, dos pedintes.

Tem os ventos aloprados,

tem os velhos e coçados,

tem aqueles que dá gosto só aconchegar.

Outros ventos parecem mais doces,

com colo mais aquecido,

e só me fartam quando a noite some de vez.

Já pensei em domá-los, por certo

ensiná-los a cantoria que embala meu sangue,

mas sempre acaba em missão inacabada.

Mas só querem saber de dançar

sem cabresto, até quando lhes der na telha.

Hoje me aventuro na busca desafinada

por ventos ainda a serem feitos,

se é que existem em algum canto.

Só assim poderia tê-los rentes ao meu peito,

como bem quero, como bem mereço,

como bem sou.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 15/07/2015
Código do texto: T5311432
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