AI QUE SONO!
Meu sono às vezes vem calado, sem pompa,
e causa um estrago danado no pique
nocauteando as ideias sem pena
levando tudo pra segunda divisão.
Esse sono é farpa arteira,
daquelas que nem saem com fórceps,
daquelas tacanhas feito teimosia de adolescente
em ponto de bala.
Tenho sono quando deveria pular de asa-delta,
e isso me deixa rabugento, viro a mosca do cocô
do bandido, viro a presa encurralada num beco
sem saída há séculos.
O sono vem pra mim nas horas que deveria
se mandar de vez e sem olhar pra trás,
chega feito manada de rinoceronte,
feito vontade de quero-mais, mais, mais, mais...
Então parece que resolve se instalar de vez
feito inquilino perpétuo, feito tumor que vira
musgo pra não ser flagrado numa matança
sem perdão.
Então, sem ter outra saída,
me jogo nos seus braços meio morto, meio falido,
e deixo que faça de mim o que bem quiser,
porque sua missão foi cumprida.
E a minha idem.
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