SUOR ENCHARCADO

A minhas verdades, se existem, cadê?

Talvez nas fronhas que já untei,

talvez no suor que já me encharquei,

talvez no silêncio que já requentei.

A minhas verdades são vento raro,

passos sem pegada,

tiro certeiro nos vãos descadeirados dessa vida.

A minhas verdades sacodem o chão da Terra,

fazem o rei liberar sua estribeira,

deixam o tempo atônito, perdendo o rumo de casa.

Elas conhecem o que nossa alma esconde,

ou finge ver.

Seus braços são incansáveis anzóis,

que nunca descansam nem esquecem seu algoz.

A minhas verdades são poço sem fundo, gritos desesperados

por goles de ar, câimbras que nunca cessam de descamar,

feridas que nunca produzem casquinha.

Tenho tentado colocar minhas verdades na ordem do dia,

tenho feito tudo para deixá-las livres,

para levar-me para onde bem entenderem.

Tarefa atroz, porque o mundo faz questão

de atirá-las do precipício e, sempre que pode,

as estraçalham com o pé feito inseto repugnante.

As minhas verdades, muitas delas banidas de mim ou,

quem sabe, dissimuladas pelas farsas de sempre,

teimam em se manter vivas, teimam em se

fazer entender, teimam em dizer "tô aqui!"

As minhas verdades são heroínas que ficam lá,

firmes e inertes, esperando algum golpe de misericórdia,

alguma rasteira para irem ao chão e

nunca mais levantar de novo.

Enquanto isso não acontece,

vão se mantendo caladas, meio bobas,

meio lesas, meio vadias, meio incautas,

meio tudo o que sou mesmo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 12/07/2015
Reeditado em 12/07/2015
Código do texto: T5308060
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