SENZALA ORIGINAL
Tenho medo do meu medo.
Não daquele medo tacanho, arredio, tímido.
Mas do medo robusto, farto, de peito erguido,
de fé encharcada de sonhos.
Medo repleto de vozes, de voos,
de acenos que nem sei de quem virão.
Medo avarandado, de riso solto,
de dorso amigo.
Tenho medo de escapulir dos meus medos,
feito predador arrependido, feito algoz farsante,
tipo escuna que esqueceu o caminho de casa.
Tenho medo de esquecer dos meus medos,
justo daqueles que guardava para algum dia especial,
talvez como dádiva pra mim mesmo.
Talvez para alguma paixão que vinha se atracar
na minha pele, pra nunca mais ir embora.
Tenho medo dos olhares mal ajambrados,
daqueles tombos inertes que nos levam ao delírio
e fica só nisso. Que pena.
Tenho medo de alguma desculpa mirrada,
talvez das minhas próprias ladainhas sem pé nem cabeça,
talvez dos meus próprios desejos ainda intactos
na sua senzala original.
Que seja capaz, por certo algum dia, de deixar
todos estes medos no banho-maria da solidão,
Então, quem sabe, terei menos medos banidos,
menos medos tingidos, menos medos cordel.
Quem sabe...
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