RETIRANTE
A camisa entreaberta no peito
sem botões pra guardar-me o recato,
sou apenas um bicho do mato
que chegou, inda agora, à cidade
procurando um alívio pra fome,
a pedir, a implorar caridade.
Nas esquinas pedindo eu me humilho
estendendo a mão maltratada,
pois deixei a mulher e os filhos
esperando por mim no roçado
sem um grão de feijão, sem o pão,
a coçarem as barrigas inchadas.
Todo ano se repete
essa história angustiante
que transforma o Nordestino
num eterno retirante,
indo... vindo... sem destino,
porém sempre esperançado
de que um dia a chuva fria
caia e deixe o chão molhado.
(set-93)
Só quem viveu na pele
Esse desterro forçado,
Pede a Deus que zele
O espírito preservado,
Pra não cair no pecado,
E tudo se desmantele,
Pela fome maltratado...
Esse desterro forçado,
Pede a Deus que zele
O espírito preservado,
Pra não cair no pecado,
E tudo se desmantele,
Pela fome maltratado...