LÁGRIMAS PONTIAGUDAS
Quero estar desperto para o novo,
sendo capaz de atiçar meus olhos quando
o viés da vida for só gelatina.
Quero tirar o pó das minhas ladainhas,
deixando as portas abertas sem medo de
alguma câimbra vir visitar.
Quero voltar para o ventre original
e ter o direito de lá ficar por quanto tempo imaginar.
Quero ser amigo sem pedir troco,
ser fiel sem estar enclausurado,
ser humano sem ser traste.
Quero ser pasto, antena, sumo,
casca, arremate, engate, âncora,
suor, varanda, gozo, eco.
Quero reaprender a andar, a falar,
a sorrir, a respirar, a amar.
Quero entender as cores, os nós,
os vômitos, as rebarbas, as medalhas,
o adeus.
Quero me fazer andarilho, expurgo,
timbre, sino, oásis.
Quero esquecer meu nome, minha cor,
meu destino, minhas paixões,
minhas lágrimas pontiagudas.
Quero desarmar meus ossos,
rebocos, engasgos e sonhos vencidos.
Todos eles.
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