meus silencios
meus silencios
que ardem sórdidos
e queimam em vozes
rasas
em mim
como cicatrizes
como tatuagens
como hematomas
são vertigens
são visagens
com seus deuses tenazes
a beber na retidão líquida
insólita e bestial
mas que pulsam
e imprimem
em minhas máscaras
a fruição das divindades
órfãs, tórridas, secas
como são
os meus devaneios
nos sertões de mim
assim
como fetiches
como tapiches
como trópicos ocos
e marginais
aprumados como lesmas
pelo sabores dos sóis
tão negros de tantas poesias
fertilizadas e esticadas
nos meus curtumes
na estiagem de lençóis enxutos
promíscuos e sem nódoas,
sem máculas, sem rédeas
nos oratórios leves e soltos
na peregrinação devassa
que se ostenta na lentidão
das miragens robustas
de minhas silhuetas
engrenadas nos esboços tênues
e serenos
sangrentos dessa miríade de ser gente
na loucura dos tempos sedentos
sangrentos que se ousam
na obscuridade íngrime
das ventanias vagabundas
oriundas dos tormentos
a burilar a anarquia
dos horizontes calcinados
com o fogo lento e longo
que em sangria vigia
a volupia enluarada
entorpecente e sagrada
que embriaga na velocidade frebil
e enebria com a volupia
e com a sonolência bendita
dos orgasmos
pétreos e seminais
a pulverizar superfícies longínquas
a fertilizar vieses dóceis
como a claridade que desvirgina
os ocasos sujos de sangue
que deliram espiralados
na magreza robusta de cada dia
a amanhecer
em vôos razantes
dentro de nós
como candeeiros
que sobrevivem
aos martirios volúveis
nos úteros
matizados pela alegria
da poesia que vive
e pulsa
e compõe
na dança
da alma do coração
que se colore
com a coragem
do seu hálito pulverizar
as esquinas vivas
a colorir desertos
foscos, insossos e
sem vida