meus silencios

meus silencios

que ardem sórdidos

e queimam em vozes

rasas

em mim

como cicatrizes

como tatuagens

como hematomas

são vertigens

são visagens

com seus deuses tenazes

a beber na retidão líquida

insólita e bestial

mas que pulsam

e imprimem

em minhas máscaras

a fruição das divindades

órfãs, tórridas, secas

como são

os meus devaneios

nos sertões de mim

assim

como fetiches

como tapiches

como trópicos ocos

e marginais

aprumados como lesmas

pelo sabores dos sóis

tão negros de tantas poesias

fertilizadas e esticadas

nos meus curtumes

na estiagem de lençóis enxutos

promíscuos e sem nódoas,

sem máculas, sem rédeas

nos oratórios leves e soltos

na peregrinação devassa

que se ostenta na lentidão

das miragens robustas

de minhas silhuetas

engrenadas nos esboços tênues

e serenos

sangrentos dessa miríade de ser gente

na loucura dos tempos sedentos

sangrentos que se ousam

na obscuridade íngrime

das ventanias vagabundas

oriundas dos tormentos

a burilar a anarquia

dos horizontes calcinados

com o fogo lento e longo

que em sangria vigia

a volupia enluarada

entorpecente e sagrada

que embriaga na velocidade frebil

e enebria com a volupia

e com a sonolência bendita

dos orgasmos

pétreos e seminais

a pulverizar superfícies longínquas

a fertilizar vieses dóceis

como a claridade que desvirgina

os ocasos sujos de sangue

que deliram espiralados

na magreza robusta de cada dia

a amanhecer

em vôos razantes

dentro de nós

como candeeiros

que sobrevivem

aos martirios volúveis

nos úteros

matizados pela alegria

da poesia que vive

e pulsa

e compõe

na dança

da alma do coração

que se colore

com a coragem

do seu hálito pulverizar

as esquinas vivas

a colorir desertos

foscos, insossos e

sem vida

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 03/07/2015
Reeditado em 06/07/2015
Código do texto: T5298406
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