DEUS


Para a criança, ainda bem pequena,
Deus era o medo dos pecados noturnos,
quem sabe a morte dos passarinhos,
minhas covas cobertas de flores murchas.
Talvez fosse um grande protetor
e chegariam os presentes no Natal,
cresceriam árvores frondosas,
esconderijo, proteção e fantasia
de ver o mundo lá do alto,
luar das noites sem luzes artificiais,
fartas piscinas de poeira fina,
galinhas ciscando
deleite de meus seis anos,
brincar horas longas com água e sabão.

Tempos depois, vivia lá na igreja,
no altar, em todo lugar,
fascinantes pinturas sacras,
missa de aleluia, de Natal,
estátuas em procissão,
o hostensório sob o baldaquim.

Mas houve o dia em que Ele foi
Aquele que "levou" meu pai tão cedo,
apesar de minhas preces fervorosas
e minhas duas filhas, sem que
eu tivesse tempo de rezar.

Depois, apagou-se.
Apenas a lembrança, adormecida,
de algum Criador do Universo,
aparecia às vezes nos meus sonhos.

Hoje sei, Ele escreve pelas páginas
da vida, as lições que me cabe aprender.
Sem me absolver ou me condenar,
faz de minha consciência meu juiz.
planta esperanças de renascimento,
Nos jardins que esqueci de cultivar.

Descobri que meu limitado ser humano,
desconhece a descrição do Ilimitado;
O Pastor da ovelha desgarrada
é nutrição e alento em minha vida.

(07/04/94)