Grude

Eu não sou meu Feicebuqui.

Eu não sou nada maior que um grão de areia.

Eu não sou esse corpo que me carrega,

e eu não sou essa voz,

não apenas ela, ao menos.

Eu sou o grão de areia que o universo torna menor que um grão de areia,

e eu sou o grão de areia que o neutrino torna imenso,

e o ego que me torna falsamente maior que tudo isso.

Eu percebo e digo que penso,

e penso o que digo, e por isso tudo o que eu digo é mentira,

mesmo que eu seja verdadeiro.

Eu sou como um inverno em janeiro, no Sul...

Sou como um céu coberto de nuvens de chuva

num dia de céu azul: Eu não sou.

E tu sou eu.

E eu sou um tu em ti, e tu és um eu em mim.

Decifra-me, Cifra-me, Versa-me e me avessa,

e Seja-me.

Viaje-me por dentro de cada desatino,

e sê eu como tu és tu,

e sê sábio como quem olha para as estrelas e as admira,

e sabe e ama o tamanho que não tem,

pois tudo o disso é divino e belo.