Passagem

Eu que tantas noites passei em claro

Que vi a lua se despedir

Que vi o sol chegar

Não pude ver o jardim em flor.

Então, sou qual a madruga

Que se habita de tantos seres e habita tantas noites.

Tantos sonhos, tantos desejos.

Minha pele já envelhecida

Não dita para quem me vê, meus passos.

Meus desassossegos não são nada mais

Que sonhos que se perdem em sonhos.

Sou em mim mesmo apenas eu

Me enluto de dores e lágrimas

Me dói ver sob os viadutos crianças

Que sonham com o prato que não vem.

Os velhos me estampam o peso da idade

Estou ficando velho e farto

Estou nostálgico de um tempo que não sei.

Amanhã vou acordar

E talvez o sol tenha cedido seu brilho

Para a névoa que cobre a cidade.