enquanto

Saraus

Esses dias de poesia valem anos...

Sim, somos iguais...

Capitalistas ou provincianos

Entre parêntesis

(a cor começa a tingir-se

Desgastada no que aparece

Quando se apaga na memória

Desanuvia, embranquece...)

Cá entre nós

Foi preciso tempo hábil

Para delinear o tempo

Entre o fazer e o lazer.

As coisas fundem-se

Umas às outras...

Os momentos se atropelam,

As concussões se alternam.

Como fora difícil errar

Nas assertivas da vez...

Cá entre nós, valeu.

Valeu o corte fundo no pé,

O desgaste na coluna,

O coração acelerado...

Valeu, sabe por que?

Por ter criado um passado

Escrito a letras graúdas...

Levado pelas miúdas

Esperas de querer mais.

Valeu, que tudo vale a pena

Não sendo a alma pequena.

Confabulário

Confabulo com as saudades

Das coisas revividas nelas.

Aquarelas? Nem sempre,

Às vezes desbotadas...

Às vezes rebuscadas...

Mas sempre fazendo parte

Dos ontes levados hoje

Como memória, olvido...

Saudades trazem sentido

Às mínimas estiveranças

Nuvens que passam e ficam,

Gentes que se ausentam

Mesmo presentes...

Saudades tratam bem disso,

De seguir em frente...

Cresci um pouco através

Do tempo ensinamento...

Que me dobrou

À dor ensinamento.

Crescendo quase nada

E já diminuindo de novo

Esquecendo lição ensinada...

Quando cortei a árvore

Fronteiriça a casa

Senti-me vencedor

Sobre sua natureza

A alijar alicerces murais

E calçadas...

De tarde ouvi a passarinha

Procurando o ninho

Da árvore derrubada

Enquanto tiver forças

Enquanto tiver forças

Viajarei pensamentos

Cimentando sentimentos

Puros ainda, impuros

Visto por outro lado,

O lúdico sádico.

Enquanto ouvir cantar poemas

O pássaro distraído,

Fugido de um gato faminto...

Enquanto houver caminhos

Caminharei a pé...

Enquanto ainda... Enquanto aindas...

Talvez seja um nada

Frente ao universo de estrelas

E fagulhas em casas

de botões errados

enquanto ainda estiver erado...

enquanto ainda....

sergiodonadio.blogspot.com

Águas quentes de Goiás

Fogo... Fogo... Fogo...

Até tu vira água

De novo?

Sobre a fome aguda

Boi de engenho se acostuma

Com cana seca passada na mó

Da destilada garapa

Para certa serventia

A folha tem de ser macia...

Assim é que se conhece

A desservida urtiga...

Inábil

O som que eu conseguiria

Tirar da flauta barroca

É o mesmo que tira o vento

Há poesia na poesia?

Se fosse doer menos

Que poesia haveria?

Bala perdida

Tens dois dias

Para aprender esse passo,

O que te coloca

Fora da mira do balaço.

Pode que o dia

Acabe em tragédia...

Então viva tua fantasia

De manhã à tarde.

Não tarde, que o tardo

Perde um tempo hábil.

Face a face

Faz-se um passo

Frente à face em ruga

Faz-se a fuga

Dança

Na falta do que fazer

Faça versos...

Na falta do que comer

Coma versos,

Que o sustento da alma

É inverso

À fome que o corpo tem

Pelo verso.

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 01/07/2015
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