Ouvindo Bach...
Pela ordem de tudo e pelo amor,
eis-me, Senhor, sem me ter de tudo ou quase nada,
sem ser mais um poeta, mas uma alma ingrata,
sem ser o que pensei sempre ter sido,
bom ou ruim, isolado ou querido,
alguém feito de carne e osso e que sabia valsar.
Terça insossa, mansa demais para minha Tocata,
olho a orquestra e não me deleita do mundo, sua Sonata,
porque o maestro já quebrou as batutas,
rasgou as partituras e sumiu com minha alma.
O que restou não possui melodia
e é por isso que não posso cantar neste poema, minha alegria,
a que de Ti ouvi em Bach, sentado no banco daquela igreja calma certo dia.
Cantarei em outros versos diferentes
e voltarei a ser alegre novamente a semana inteira.
Não posso amar sozinho, há desconforto em meu ninho e ninguém mais canta,
a orquestra se evadiu do palco, os instrumentos não se contam
e nem mais Tocata e nem mais Sonata e nem mais Cantata.
O que ouço é meu silêncio apavorado, sem sopros e cordas,
quase de tudo desmontados, calados ao som da voz perdida
numa música que mais parece uma despedida
de quem não mais quer cantar...
Ouço Bach!