Viandando
Viandando
Estamos caminhando
No passado,
Lá as coisas são
Mais coloridas, leves,
A tarde chega devagar...
A manhã foi de aula
Naquela escola
Desembrulhada de aprender...
Estamos caminhando
Para o hoje,
A sensação de perda
Me ataca, fere a ata,
Somos crescidos agora,
Somos responsáveis
Pelas nossas erradas...
Somos piores que ontem,
Pois maiores que ontem
E ao mesmo tempo
Menores que ontem.
Sacrificamos
Nossas bondades
Para vencer nessa vida
Herdada ser.
Para o domingo
Para o domingo
Há que haver um sábado,
Trabalhado ostensivamente
Atávico para que sobre
Em suor e gabo
A garrafa cheia de prazeres...
Toda melodia para este sábado,
Cansado de ser,
Entre os outros dias todos
O momento de espairecer.
Para que haja um domingo
Há de haver o cansaço
Dos seis dias trabalhados
Ser.
ABA
Conheço o homem que,
Ao contar com a sorte
Encontrou a morte...
Insólito
O que se constrói
Com poesia
Não se demole,
Porque não é sólido,
É insólito.
Desajuste
Para trás ficou a mágoa
Acumulada
Dos tempos da chibata,
Arco, adaga,
Assombrando as noites
Acorda a madrugada,
Estranhamente suada,
Levada a efeito o sonho
Pesado das manadas...
Para trás deixar toda mágoa
Engendrada nas madrugadas,
Ver o sol novo nascendo
Ao canto da pássara mãe
O canto da manhã,
Que o cenário continue
Sendo nosso talismã.
Porca miséria...
O verbo que se afasta
Da verdade...
A verdade desmentida
Tarde...
A mão pesada do juiz
Que abate
De forma trágica
E prende,
Ao invés do bandido,
O senhor que se defende
E o mata.
A noite é uma criança
Eu,
Recém-nascido,
Me posto à sua frente
Convidando-a
Para brincar a ciranda
De viver os sonhos
Que terei adiante...
A noite, esta criança,
Não me sabe aqui,
Enquanto dança.
Cerração
No cerrado dia em névoa
Avisto, longe,
Uma estátua vindo
Dos ondes...
Aterra-me a ideia de vive-la
Fazendo com que respire
Este ar difuso
Que também eu sofro.
Pensando bem...
A estátua está certa,
Enquanto se deserta
Eu é que morro.