o tempo que passa

O tempo que passa

Vi passar, na manhã,

A menina das saias curtas,

Os homens das calças rotas,

A menina para os homens,

Os homens para a menina...

Mas, não disse nada.

Vi o dia tornar-se claro

Dos escuros da noite densa,

E a noite, densamente ousada,

Dividindo-se em sombras

Esparsas sobre telhados...

Mas, não disse nada.

Nasci e cresci espiando

A vida das cores e sombras

Entre o nascer e o pôr

Dos sóis diversos, premidos

Entre vidas que passavam...

Mas, não disse nada.

Sobrevivi às derrotas

Onde passei sede e fomes

E viajei as pasárgadas

De meus sentidos absortos,

E fui desfiando horas...

Mas, não disse nada.

Que a vida, como me é dada,

É-me tirada aos poucos

Nos sentimentos de dores

Matando-me previamente,

Que só os ossos ficarão.

Mas, os ossos não dizem nada.

Os ossos apenas ficam

Observando calados

As mortes das madrugadas

E dos sóis que pairam

Em nuvens escurecidas,

Que não dizem nada.

Sergiodonadio.blogspot.com

sergio donadio
Enviado por sergio donadio em 29/06/2015
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