PROFANO
Nada tenho a fazer hoje.
Permaneço silenciosa por alguns momentos,
Desalinhada, desconfiada da vida.
Fico na obscuridade, vagamente consciente.
Percebo que somos apenas produto,
Produto de uma irônica fatalidade divina.
Desejamos apenas o que não pode ser,
Desejamos efemeridades,
Amor absoluto e pleno,
Mais profundo do que podemos carregar.
Egoístas?
Somos crianças e o amor é como folha seca
Que tomba com o vento.
Mas continuamos produto,
Agora, da esperança, aquela a qual agarramos
E logo se perde em algum sítio de nós mesmos.
Hei de chamar esta esperança de qualquer coisa,
De carinho e de desumano, quando se esvai depressa.
Assim, como uma gargalhada que finda na sombra
Dos nossos pensamentos, queria poder retê-los
Do seu segundo de consumação,
Quando tudo se torna fácil
E percebemos tratar apenas de uma irritação
Contida de nossa juventude,
Aquela que ficou lá longe, a cada passo à frente.
Ah! Essa esperança é camuflada pela incerteza.
Ela olha profundamente nos meus olhos
E até esqueço que fazer nada é puro ato de pensar.
Pensar, pensar no infinito, na distância, na vida
Que, suavemente, nos cerca, como uma melodia
Eterna, meiga e singela.
É reconfortante ouvir as notas de beleza
E sentir a simplicidade
Que elas têm no compasso do coração...
Ouvi-lo é escutar a beleza através da obscuridade,
Num mundo de sensações mortas, envelhecidas,
Esvaídas do menor assomo de compaixão.
Deixo-me relaxar no divã, que não é meu,
Tentando entender as nuances do tempo,
Pois o tempo contribui para nossa construção.
IEDA ALKIMIM
www.iedaalkimim.recantodasletras.com.br