AD ALTA !
(ODE PARAFRASTICA)
Ao caro Mestre e Amigo DR. GUILHERME REBELO
" Gardons, vainqueurs ou nou, notre fiertê virile"
" Marchons toujours plus loin, marchons toujours baut."
Já não há ideal! 'stão mortos os Poetas;
Ninguém mais vai colher as flores prediletas
Do verso, nas montanhas;
E a ampla messe vivaz da mocidade ardente
Ceifou-a toda, há muito, um vento impaciente
De vingadoras sanhas!
A Alma sente-se má, porque mais nada espera;
Como os velhos portais amor amortalhados de hera,
Ruem os corações!
Caiu a torre azul, o templo está fechado,
Deus não existe mais, Deus foi eliminado
Ao rir das multidões
Tudo se acabou, tudo! O mundo é uma geena
De treva onde a Alma humana angustiosa pena,
Hipótese sombria! -
O Céu está vazio, o Verso apodreceu,
- Irmãos! - dizem zombando, - A Virtude morreu,
Morreu a Poesia!
Como?!... E aonde o Deus que há pouco se adorava?...
Como?!... E onde o Ideal, essa divina lava
Que sempre encheu de luz o coração dos moços?...
Como?!... Restam somente escombros e destroços?...
E essa rude altivez e esse sublime orgulho
Que nos trouxeram sempre a fronte sobranceira?...
Acaso estão também debaixo desse entulho
Que despejou na queda a Humanidade inteira?...
Iremos nós agora, humildes, rebaixados,
Sem o clarão da Fé nos olhos assombrados,
Sem forças, sem paixões, sem ímpetos, sem norte,
Tendo n'alma somente o Desespero e a Morte?...
Oh! Não, mil vezes mão!... Vasta mentira infame!...
Não!... Podeis blasfemar, sacrílegos! Jamais!
Burla ou fraqueza vil, vosso ódio em vão lhe chame,
Jamais se há de apagar a Fé dos nossos Pais!...
A Verdade que luta, o Amor que ressuscita,
A energia do Herói, unida à do Levita,
Temos ainda em nós possantes como outrora
Podemo-lo jurar, e disso ninguém cora;
Porque, apesar de encher o nosso ouvido aflito
O Enigma do Não Ser - negra ameaça enorme -
Temos sempre no peito a sede do Infinito
E nunca, dentro dele, a Covardia dorme!...
Avante, Sempre ad alta!... Os náufragos da Vida
Só podemos olvidar escalando as alturas!
Subi! para alcançar a terra prometida!
Subi! para entrever os gozos imortais,
Para que a Inveja e o Ódio, - essas larvas impuras -
Não vos atinjam mais!
Sim! Guarda dentro em vós, dos Homens isoladas
Sempre, a virtude e a Crença, esse duplo tesouro,
Como um levita guarda as Hóstias consagradas
Dentro de uma Custódia inviolável, de ouro!...
Guarda! os corações feridos e magoados,
Em fúlgidos broquéis de bronze, heroicamente,
Dos Cesares sem brio, amanhã feitos pó,
Dos déspotas cruéis, hoje turibulados,
Atirai sobre a face alvar, tranquilamente,
Vosso desprezo, só!...
Imitemos Jesus, nosso Mestre Divino!
Longe a vingança atroz que no rancor se ceva!...
Haja pra cada Aurora as explosões de um Hino!
Vergastadas de Luz haja pra cada Treva!...
A alva estrela polar, oh! não percamos mais!
Nem a oração que a Fé nos manda repetir!...
Se o Céu estiver negro, olhemos para trás
Que o Passado dirá o Verbo do Porvir!
Dos palácio de Amor abramos sempre a porta,
Dos tesouros do Bem abramos sempre o cofre!
Que importa a ingratidão! A perfídia que importa?
Deste egoismo vão derretamos o gelo;
Talvez seja mais santa a Paixão que mais sofre,
O Amor que faz morrer talvez seja mais belo!
Lutemos sem cessar como lutou Jesus!
E em nome de um Id abroquelados nela,
Vamos cheios de Fé colonizar a Luz,
Tendo um salmo no lábio e na fronte uma estrela!
Avante! Sempre ad alta! Os atletas da Vida
Só acharão o prêmio escalando as alturas!
Subi! para alcançar a terra prometida!
Subi! para entrever os gozos, imortais!
Para que a Inveja e o Ódio, - essas larvas impuras -
Não vos atinjam mais!...
1894.