A AVE E O POETA
Por diversas vezes,
tenta o poeta a concentração abraça-la,
enfeitando-a com certo medo,
tomando-a como veste de fada.
Mais não há mais tempo...
pois o tempo já lhe consome,
sobre o contemplar mágico das coisas que transforma o homem.
mas não só o firmamento é o que mais lhe discerne
entre o porque das coisas e as coisas do por que.
" vai poeta num caminho adunco,
marchando qual o soldado que parte,
e deixa num verso livre,
um amor- uma vida- uma frase,
vai! e entre as suas armas,
não se agasalha senão a caneta,
a fé- a perseverança-a esperança,
e o vazio que o acompanha não o deixa.
É como as matas que vivem na solidão,
e a noite sonham com anjos,
e descansam na escuridão.
Mais seu peito...como vaga lá no infinito,
como finge ser alegre a alegria de ser triste,
porque te deram coração tão sensível e apaixonado,
por que poeta nunca mais riste?"
- Ave que grita,
meus ais chegaram aos teus ouvidos,
estou preso e acorrentado,
como o mais veloz dos cisnes.
E minhas mãos já se mancharam,
do sangue que eu violei,
se grito não há quem me ouças,
se oro não adianta: matei!
-Ave,ave minha...
me dizes daqueles que te prenderam,
que pecado cometeste tu ó avezinha,
que vives presa em surdina?
só por ter um canto tão suave,
e não depender de nós,
por que te roubam as asas,
tua liberdade mais veloz?
-Ave tu que presenceias a minha aflição,
por que não tomaste as dores minhas
entre os homens que aqui estão?
por isto talvez eu te faça companhia,
numa grade com grande cela,
vivendo de idolatria.
E tu ainda mais ardente,
abrirá teu canto mais ciente,
como a voz da Ave-Maria.