A AVE E O POETA

Por diversas vezes,

tenta o poeta a concentração abraça-la,

enfeitando-a com certo medo,

tomando-a como veste de fada.

Mais não há mais tempo...

pois o tempo já lhe consome,

sobre o contemplar mágico das coisas que transforma o homem.

mas não só o firmamento é o que mais lhe discerne

entre o porque das coisas e as coisas do por que.

" vai poeta num caminho adunco,

marchando qual o soldado que parte,

e deixa num verso livre,

um amor- uma vida- uma frase,

vai! e entre as suas armas,

não se agasalha senão a caneta,

a fé- a perseverança-a esperança,

e o vazio que o acompanha não o deixa.

É como as matas que vivem na solidão,

e a noite sonham com anjos,

e descansam na escuridão.

Mais seu peito...como vaga lá no infinito,

como finge ser alegre a alegria de ser triste,

porque te deram coração tão sensível e apaixonado,

por que poeta nunca mais riste?"

- Ave que grita,

meus ais chegaram aos teus ouvidos,

estou preso e acorrentado,

como o mais veloz dos cisnes.

E minhas mãos já se mancharam,

do sangue que eu violei,

se grito não há quem me ouças,

se oro não adianta: matei!

-Ave,ave minha...

me dizes daqueles que te prenderam,

que pecado cometeste tu ó avezinha,

que vives presa em surdina?

só por ter um canto tão suave,

e não depender de nós,

por que te roubam as asas,

tua liberdade mais veloz?

-Ave tu que presenceias a minha aflição,

por que não tomaste as dores minhas

entre os homens que aqui estão?

por isto talvez eu te faça companhia,

numa grade com grande cela,

vivendo de idolatria.

E tu ainda mais ardente,

abrirá teu canto mais ciente,

como a voz da Ave-Maria.

ARTHUR MARQUES DE LIMA SILVA
Enviado por ARTHUR MARQUES DE LIMA SILVA em 24/06/2015
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