ODE AO BRASIL DO FUTURO
(REFLEXOS DE HUGO)
" É no Brasil que se há de estabelecer
a Capital gloriosa da futura República
dos Estados Unidos do Mundo."
Victor Hugo
Esplêndida visão! Tempos futuros!
Antigo sonho, enfim cristalizado!
Das bastilhas por terra os negros muros,
O lôbrego deserto atravessado!
Depois dos areiais, a veiga em flor;
Depois da Escuridão, depois do Horror,
O Sol, o riso bom da Primavera,
A Paz que os corações todos estreita!
Parece a Terra a noiva que se enfeita
E o Homem o desposado que ela espera!
Não mentiram as velhas profecias;
Além, nas brumas do horizonte, avisto
A realização das Utopias
Que já sonhara o coração de Cristo!
O Povo há muito espedaçou os ferros.
Há muito o Verbo, jugulando os Erros,
O estandarte plantou da Liberdade
Na apoteose enorme de um Tambor!
Não há escravos, já não há senhor...
Venceu a Luz! Venceu a Humanidade!
A jaula escura, o ergástulo profundo
Da antiga Lei, do velho Preconceito,
Em cuja gorja, em cujo barro imundo
O Despotismo, em nome do Direito,
Prendera as consciências indomadas,
Os corpos das Nações crucificadas,
As almas todas, límpidas,severas,
Todos os grandes homens generosos,
Escondendo-os do Sol como leprosos,
Amordaçado-os como bestas-feras.
A porta desse báratro de horror,
O selo atroz dessas prisões supremas,
Abriu de um golpes, um braço vingador,
Quebrando ferros e quebrando algemas!
E logo todos os supliciados,
Erguendo a fronte cheia de esplendores,
Asas bateram pelo Céu em fora;
Livres voaram, procurando a autora,
Como uma revoada de condores!
Sublime paz, tranquilidade santa!...
Risonha exulta a Natureza em festa!
Tudo sorri tudo trabalha e canta:
O passarinho - á sombra da flores -
A passarinho- á sombra da floresta -
A humanidade - á sombra da Justiça!
Soberbo o Povo que venceu na liça,
Segue o Progresso - o grande palinuro -
Ao cicio da pena á voz do malho,
Cantando a sinfonia do Trabalho
Cantando a Marselhesa do Futuro!
Ninguém se lembra mais dos Bonarpartes,
Torres canhões. leviatãs de guerra,
Fortalezas, torpedos, baluartes,
Tudo ruiu, tudo rolos por terra!
Já não há tropas, já não há fronteiras,
Alheias terras, plagas estrangeiras...
- Livres os portos, as cidade francas! -
Sobre as nações enfim emancipadas,
No azul de um céu primaveril, paradas,
Arqueia a Paz as grandes asas brancas!
Ferrugem roeu as espingardas;
Roeu a traça a púrpura dos reis;
Das colossais, flamívomas bombardas,
A cujos raios se escreviam leis,
Deses sinistros mastodontes de aço
Não resta, generais, nem um pedaço
Na relva esmeraldina dos caminhos,
Nos altos montes, no areial da lande;
Um pedaço sequer, bastante grande,
Para servir de taça aos passarinhos!...
Norteia do alto o Verbo, que irradia!
A Liberdade já não é um crime...
É gládio a Pena, o Livro - a artilharia,
Os Ideais - o exército sublime
Dos grandiosos prélios incruentos.
Das batalhas de Luz dos Pensamentos!...
Deus, enfeixas essas soberbas armas,
Para amarrar esse troféu divino,
Tomou a corda que tangia o sino,
O velho sino escuro dos alarmas!...
Olhai, irmãos na profundez do Céu,
Além, aquela estrela tão pequena,
Que vem rasgando, a pouco e pouco, o véu
Da escuridão com sua luz serena...
Olhai!... Ela anuncia, alviçareira,
A fraternização da terra inteira!...
Ó República! Ó Pátria universal!
Hoje - visão, remota claridade,
Utopia. Amanhã - realidade,
Enorme Sol, eterno e triunfal!
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Quando este sol raiar, Pátria adorada!
Brasil! sobre as nações, a tua glória
Há de voar, bem alto, arrebatada
Nas asas gigantescas da Vitória!
Sobe! cresce, confia em teu porvir!
Deus te criou para crescer, subir!
Falhar não deve esse ideal jucundo;
Mentir não pode a augusta profecia;
Do Mundo o coração serás um dia,
Serás um dia o cérebro do Mundo!
1900- "Suprema Epopéia."