A construção da poesia

Eu procuro as palavras...

É pelas palavras que explico o que me cabe explicar.

É através delas que eu vivo.

Elas vêm e vão, caoticamente,

sem nenhuma regularidade,

sem ritmo nem melodia.

E pedem que eu as ordene

e que as faça inteligíveis

aos olhos de quem as lê.

Ou não me pedem nada.

De todo modo,

eu deixo que elas se aproximem,

que vivenciem meu mundo

e se aquietem junto a mim.

Ou que, se fizerem rebuliço,

me deixem atônito.

Por um instante me ponho em dúvida

se vou saber lidar com elas.

No entanto as acaricio

e elas correspondem me acariciando também.

Só aos poucos é que vou me familiarizando.

E aí me faço artífice,

organizo-as, desloco uma aqui, ponho outra acolá,

substituo uma e outra e viro a página.

Vou atrás de outras palavras.

E começo a me dar conta de que a poesia pode estar nascendo.

(outubro de 2003)

Genésio dos Santos
Enviado por Genésio dos Santos em 22/06/2015
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