A construção da poesia
Eu procuro as palavras...
É pelas palavras que explico o que me cabe explicar.
É através delas que eu vivo.
Elas vêm e vão, caoticamente,
sem nenhuma regularidade,
sem ritmo nem melodia.
E pedem que eu as ordene
e que as faça inteligíveis
aos olhos de quem as lê.
Ou não me pedem nada.
De todo modo,
eu deixo que elas se aproximem,
que vivenciem meu mundo
e se aquietem junto a mim.
Ou que, se fizerem rebuliço,
me deixem atônito.
Por um instante me ponho em dúvida
se vou saber lidar com elas.
No entanto as acaricio
e elas correspondem me acariciando também.
Só aos poucos é que vou me familiarizando.
E aí me faço artífice,
organizo-as, desloco uma aqui, ponho outra acolá,
substituo uma e outra e viro a página.
Vou atrás de outras palavras.
E começo a me dar conta de que a poesia pode estar nascendo.
(outubro de 2003)