Líquido sagrado de Baco

Ontem: recuperei o tempo perdido, esqueci-me dos problemas e reescrevi um poema antigo; hoje: perdi algum tempo que tive, mas resolvi problemas antigos e escrevi um poema novo.

Líquido sagrado de Baco

Rigoroso esse tempo bom na tela do céu azul,

Enorme pingo quente dourado,

Mas amargurado ele caminha sem norte (também sem sul).

Só esperou o cair da noite e foi-se frenético abraçar a boemia:

Nas mesas bambas dos piores bares sentiu-se bem, satisfeito,

Era aquilo ali (Alá, a luz, além) que ele queria.

Com as paredes descascadas e encardidas,

Banheiros de intolerável cheiro ruim;

A meia luz...

A farra no garrafão de vinho barato que esvazia:

Todo feio se faz tolerável;

O detestável é a alegoria da vida.

Com três palitos de dente se faz um xadrez psicológico,

De deixar Freud confuso e Confúcio fã de Pink Floyd.

O que eu faria em uma atmosfera assim?

Além do porre corriqueiro:

De janeiro e meu aniversário;

De ver estranhos saindo do armário;

De tudo que é falso tornar-se verdadeiro.

O que eu faria?

Largaria o último copo e voltaria ao primeiro,

Desde onde a mente vai demudando,

O tom de voz aumenta, palavrão atroz vira salmo,

E enterra-se qualquer tormenta.

O que eu faria?

Vou voando – bem calmo ao terreno estrangeiro.

A insanidade das horas perdidas no líquido sagrado de Baco:

Com uma mão vai afundando o barco

E com a outra fornece o salva-vidas.

André Anlub®

(15/5/13)

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