AINDA AO POENTE DA LUA E DO SOL
Nem de longe
o aturdimento dos carros hoje.
Nada.
Nada destoante no cenário
do domingo promissor,
reluzente!
Abro o aceno da manhã
sobre a cidade semiadormecida,
tão incrivelmente minha,
silente e acolhedora.
As flores do jasmineiro
adocicando o ar,
os astros trocando de lugar,
um enlevo no corpo,
um suspiro fundo nas lembranças.
O coração tateia a falta.
Em outros dias e domingos ele...
Como estará?
Uma gota de chuva
corre no meu rosto,
uma só,
como uma lágrima
derradeira e perpétua,
que veio e ficou.
Tantas vezes uma manhã assim!,
ele preparando a vida
e a rotina dos dias
com amor e arte,
o cheiro de café tomando a casa,
o rádio com viola caipira,
o pão na torradeira,
a xícara torta no pires,
barba e banho apressados.
Não sei se ele era feliz.
Nós éramos,
a esposa amorosa e companheira,
as filhas que o adoravam!
Estava onde já não está.
Vislumbro seus olhos
ternos e zelosos,
duas estrelas raras
entre a lua e o sol,
ao nascente e ao poente
de nós,
guardado no céu da alma.
O domingo segue,
especialmente límpido
na saudade.
(para meu pai)
31/05/2015