Carta
Há muito tempo, sim, que eu não te escrevo.
Deve ser essa velha mania de não me abrir por completo.
Tenho medo de mostrar-me como sou e não agradar aos que insistem em me amar.
Ficaram velhas todas as notícias, gastos os lápis, amassadas as folhas ao chão...
As palavras estão aí, soltas, rodopiando na minha mente.
Uma a uma, prontas para serem eternizadas, nem que seja por um instante, quem sabe na mente de quem as lê.
Queria dizer tanto neste papel...
Não sei até quando vou conseguir escrever...
Pois falta-me o dom da palavra.
Quem dera eu tivesse uma ótima retórica para encantar as pessoas, como elas muitas vezes fazem comigo.
Ou mesmo o dom da escrita, para povoa o imaginário das pessoas.
Mas as minhas poucas linhas atrevidas são tortas, sem sentido ou emoção.
Os livros que leio me fascinam, porém sei que não tenho talento para me igualar aos autores prediletos.
Essas linhas rabiscadas são a imagem do meu ser, tão frágil, tão só, tão confuso...
Mal as consegui escrever até aqui...
A noite estava quieta, mais eu inquieto, decido perturbar-te, se acaso quiseres ler-me, que mesmo em meu silêncio, eu me importo.