PALAVRAS MUDAS
(Sócrates Di Lima)
Palavras soltas na minha boca,
Que não são ouvidas nem por mim,
Se fazem vozes assim tão rouca,
Louca, como o grito de um clarim.
Palavras perdidas,
Misturadas nas páginas do meu livro,
São palavras distorcidas,
Sem sentido, mas do meu crivo.
Palavras mudas,
Que minha lingua não diz,
E se dissesse seriam palavras surdas,
Que não ouviriam nem em riscos de giz.
Palavras sem orgulho,
Caladas pela espada da verdade,
Quebradas ao corte e em borbulho,
Mergulha a alma e se perde na saudade.
Palavras mudas,
aquelas que só a alma e o coração falam,
Como são palavras surdas,
Os olhos derramam e se calam.
Palavras mal ditas se fizeram....
Que se quer os olhos as viram,
Nem os lábios pronunciaram,
Nem os ouvidos quiseram.
Palavras ditas na despedida,
Depois que o amor foi-se embora,
Vozes pasasadas despercebidas,
Mas, que depois, saem boca a fora.
Palavras em forma de lágrimas frias,
Quando não se tem alternativa,
Foi melhor não dize-las como as diria,
Porque se calam sem iniciativa.
Às vezes eu escrevo palavras sem pensar,
Outras penso sem escrever,
Outras imagino sem poder falar,
Mas quando as falo nem eu mesmo posso crer.
Quisera não ter ouvido a minha boca,
Pronunciar um adeus de fora para dentro,
porque de dentro para fora seria louca,
Cada letra montada na frase de centro.
Minhas palavras desfalecidas,
Que de tristes ficaram miúdas,
Se pederam por dentro retidas,
E ficaram apenas, como palavras mudas.