Negra Calíope

Dê-me, soberana Calíope,
a antiga coragem
para lutar contra os novos Minotauros
que revivem nos novos homens velhos.
Dê-me a antiga ânsia por justiça
e afaste-me dos doces caminhos
do lirismo arrebatado.
É tempo, Musa!
Pois, eis que os dragões
já não nos permitem sonhar.
Refaça as minhas penas e tintas,
pois eis que novos tiranos
roubam as cenas e os pobres devotos.
Dê-me, Ninfa, a verve de antes,
ainda que por breves instantes,
pois urge enfrentar a besta-fera
que assalta os caminhantes
e assombra todos os caminhos.
Dê-me, Tágide, o ímpeto de Aquiles
e a trágica precisão de Eurípedes,
pois eis que rondam os cenários,
as maldades consorciadas
e as harpias das ilusões devastadas.
Dê-me, Musa, o gosto antigo
e a antiga crença de esperar no verso
a redenção do universo.

E, por fim, dai-me Calíope
o negro Canto etíope!

 

Homenagem pouca ao amigo querido e grande poeta africano Mpiosso-ye-Kongo.