VOZES D'ALMA
(Sócrates Di Lima)
Ouço nas noites,
As vozes do meu silêncio ruminante,
Gritos de lamurias em açoites,
Como ventos bravios e uivantes.
Mas, quando repouso minh'alma em meu divã,
Sinto esse silêncio se formar em versos,
E no compasso do meu amanhã,
Suspiro o amor retido nas palavras dos meus reversos.
Como as vozes dos ventos,
Que sopram nas dunas dos meus desertos,
Se fazem brisas sem lamentos,
Batendo suave em minhas janelas, por certo.
É como ouvir estrelas,
Nas minhas horas de maior solidão,
Mesmo que minh'alma não possa ve-las,
Pelos olhos molhados pela minha inquietação.
E a noite desce como uma flutuante neblina,
Entre as montanhas guardadas pelo mar,
E trazem consigo as fragrâncias das colinas,
Aromatizando meus sonhos de amar.
E assim, pela boca da noite nua....
Ouço as vozes da minha alma em tons vagantes
E como a sombras que a noite explora da lua,
Fazem um luar de namorados e amantes.
E assim, olho pelas frestas das janelas entreabertas,
E recolho-me num olhar perdido na imensidão,
As luzes dos meus olhos se apagam encobertas,
Pelas lembranças de quem sou, na minha escuridão.
E me pego em suspiros sem saber,
Para que ou para quem o meu coraçao pulsa,
Não basta eu querer se não tenho poder,
Para fazer real o amor que o meu destino recusa.
Ah! Se brando o meu riso num esboçar silencioso,
Entre a poesia e uma saudade não sei de quem!
Afaga a minh'alma em tom jogozo,
E os meus desejos, vão mais além.
E quando a minha consciência fala,
É como se ouvisse as vozes da minh'lama em alinho,
Pronunciando as palavras que a noite cala,
Como clarins em rituais no meu caminho.
E assim, reservo-me ao que eu sou,
Um aprendiz de poeta nos meus versos quase a ermo,
E as vozes que ouço por hora já me revelou,
que são vozes da minh'alma nas saudades de mim mesmo.