Alucinação ( Na altura de uma outra dimensão)

Ainda me lembro do enlace na neblina,

na altura de uma outra dimensão.

O rastro enfumaçado e mórbido invadia a retina,

a visão distorcida e conturbada como efeito da alucinação.

meu corpo estático, minhas mãos se agarravam em vão,

a voz que chegava aos meus ouvidos me pedia pra descer,

parecia estar pendurado nas asas de um avião,

o vento me deformava a face fazendo meus dedos a endurecer.

como um urubu via do alto a carniça de roupas multicoloridas.

os mortos daquele instante passavam por mim como um foguete,

as nuvens se transformavam em mães arrependidas.

O sol de laminas afiadas me cortando como um estilete.

Os anjos de unhas negras queriam arrancar meu coração,

minha sombra amedrontada tentava resistir ao ritual.

onde estavam os Deuses responsáveis pela proteção?

Meu sangue escorria do céu como um lago natural.

Já não conseguia respirar como um guepardo ofegante,

cada pedaço do meu corpo despencava sobre a terra já inundada,

meu nariz como uma fornalha exibia labaredas de fogos dançantes.

E o que sobraram inteiras, foram minhas mãos penduradas.

Meus pedaços eram juntados como peças de ligação,

braços e pernas pareciam galhos de arvores esturricados,

meus olhos ainda piscavam sem direção.

Minha boca abria e fechava jurando justiça aos culpados.