Renega de vez...

Sentimentos bons deveriam ser apenas bons

Assim como pessoas boas deveriam ser apenas boas

E as ruins nem deveriam conjugar o verbo

Como um rabo que foge do seu próprio cão

Madrugadas, as eternas madrugadas molhadas

Percorridas entre linhas mal alinhadas e palavras cuspidas

Sentimentos em pedaços, cisco nos olhos agora

Menina! Como quem olha na vitrine de uma loja

Só desejo e desejo... Desejos vazios, corpos vazios...

Nada daquele velho "não adianta sonhar"

Mas de que adianta ser a mosca de asa faltando

E que deseja e deseja e deseja, sem nunca conseguir voar..

Não queira essa modernidade, de que nada pode

Apenas se deve almejar, que o fogo arda e arda

Mas sempre sem nunca queimar...

Essa pouca maternidade para que prendam os sonhos

Sem antes mesmo querer criar, sem antes tentar

Para que surrem, roxeiem porque aprenderam a maltratar

Quão bonito e suave seria, para os sonhos e para a vida

Que as nuvens fossem todas de algodão

Que sejamos tão iguais e felizes quanto na constituição

Renega de vez tua natureza e sai enquanto riscam os mares,

Se cresce quando gritam os olhos, abrigo de tudo o que se perde

Como amores ou sonhos, tudo o que se esvai por fraqueza...

Pinta de preto a solidão... Não mais dança

Quando se cai de cara no concreto, amarga e velha juventude...

Não mais cabe no abraço onde tudo cabe, porque não é tudo

Perífrase longa, janela que tende a turvar

Má vontade, falta de coragem, de com os desassossegos arcar

Falhas e rachadas rimas; Puberdade!

E no final boicotar toda a arte ; Virar toda esperança em maldade

Do mundo, da sociedade lembrar:

A dor deveras sentida, poesia deveras lida

A arte, bela e fina arte ainda há para sossegar.

Jaina
Enviado por Jaina em 08/06/2015
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