HÍBRIDA

tomei por inspiração, o poema abaixo:

híbrida

Valéria Tarelho

tenho em mim

muitas mulheres:

a menina, a Madona, a cadela,

a amante, a devota, a carente...

e convivo com todas elas

harmonicamente.

- Tantas mulheres vivem dentro de mim... tantas! Também híbrida, de manhã sou santa; de tarde, menina a brincar de amarelinha; de noite, carente; Mas, ao contrário da minha amiga e excelente poeta Valéria, a convivência delas comigo mesma não é tranqüila, harmônica... pelo contrário: loucas, elas se digladiam o tempo todo, cada uma querendo assumir, à força, a personalidade da outra. Abaixo, o meu hibrismo...

HÍBRIDA

lisieux

moram em mim mil mulheres:

meninas, jovens, senhoras,

também doces anciãs...

e elas são despudoradas,

são loucas, são desvairadas,

são inimigas e irmãs.

e nas brilhantes manhãs

são fadas, são feiticeiras,

são alegres, são faceiras,

brincalhonas, folgazãs...

de tarde são jovenzinhas

e nos seus vestidos leves,

correm, velozes e breves,

pelas campinas verdinhas

dos sonhos adolescentes...

de noite, viram bacantes,

são musas de seus poetas

são delicadas, ascetas,

são ardorosas amantes...

e de madrugada, elas

esquecem que são donzelas

são competentes atrizes,

fazem da cama, felizes,

palco de suas novelas...

e antes que chegue o dia

se transformam em devotas,

que se perdem nas remotas

orações e romarias...

não são mais essas vadias,

essas malucas crianças,

que se balançam nas tranças

e se lançam nas orgias...

voltam a ser só mulheres

perdidas nos seus passados

cheios de vícios, pesados,

negros e amedrontadores...

e na verdade só querem

curar os seus machucados

e esquecerem seus pecados,

vivendo novos amores...

São Bernardo do Campo - 14.06.07

lisieux
Enviado por lisieux em 14/06/2007
Reeditado em 19/03/2012
Código do texto: T527018