MANHÃ DE JUNHO

 
Depois da noite imensa, é manhã...
Manhã de junho...
E quando o sol nasce tão lento e frio
eu sinto que “o verso cai na alma
como no pasto o orvalho”.
Então é nesse afã
que faço teu rascunho,
sentindo ainda a doçura do frio...
Ah! Isso tanto me acalma!
Importa até o pardal no velho galho...
Então além das palavras, visto minha lã
e nas rimas dou meu testemunho...
Isso é tudo, talvez ... Além desse estio
coberto dessa névoa que espalma...
Ah! Como me atrapalho!...
Mas a poesia é minha irmã,
ou talvez mais que isso: é meu cunho...
E só por isso não me angustio;
e quando tudo parece que desalma,
é dela, da poesia, que me valho...
 




Grifos: Pablo Neruda
Imagem: google